segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Remédio controlado é vendido sem receita do lado de lá da fronteira

 Marcos Labanca/Gazeta do Povo / Milhares de remédios contrabandeados são apreendidos rotineiramente pela Receita Federal, em Foz do Iguaçu 

Em busca de ansiolíticos e antidepressivos, brasileiros se aproveitam da venda indiscriminada em países vizinhos. Consumo sem controle acarreta riscos à saúde

Brasileiros estão atravessando as fronteiras com o Paraguai e a Argentina para comprar medicamentos ansiolíticos e antidepressivos sem receita médica. Enquanto no Brasil, o comércio desses remédios ocorre mediante receituário especial e é controlado pela Vigilância Sanitária, nas farmácias dos países vizinhos basta apenas fazer o pedido no balcão. Vendidos livremente, o clonazepam (Rivotril), o bromazepan (Lexotan), diazepan (Valium) e o metilfenidato (Ritalina) estão entre os medicamentos procurados.
Derivado da anfetamina, a Ritalina é uma droga indicada para combater o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). No entanto, também é procurada por adolescentes e adultos que querem aumentar a capacidade de concentração. Entre eles, estudantes que se preparam para concursos.
Apreensões
A retenção de remédios e anabolizantes na fronteira é constante. A Receita Federal (RF) não possui estatística das drogas mais apreendidas. Porém, sabe-se que anabolizantes, suplementos alimentares e remédios contra a impotência são os mais procurados por sacoleiros para a revenda no Brasil. As apreensões, em valores, tem caído nos últimos anos. Em 2011, os fiscais tiraram de circulação US$ 3,9 milhões em anabolizantes, suplementos alimentares e remédios. No ano passado, o valor caiu para US$ 2,2 bilhões e até julho deste ano estava em US$ 1,1 milhão.
A banalização no uso do medicamento pode ter relação com o aumento do consumo no Brasil. Levantamento feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) indica que a venda do metilfenidato aumentou 75% no Brasil entre 2009 e 2011, na faixa etária de 6 a 16 anos.
A reportagem da Gazeta do Povo circulou por farmácias de Ciudad del Este, no Paraguai, e constatou que não é preciso receita médica para comprar os medicamentos. Em um dos estabelecimentos, a vendedora falou que conseguiria Ritalina em cinco minutos.
Efeitos colaterais
O psiquiatra José Elias Aiex Neto, autor do livro Psiquiatria Sem Alma, diz que a Ritalina pode provocar uma série de efeitos colaterais. Entre os sintomas mais comuns, diz o médico, estão dor de cabeça, falta de apetite, irritabilidade, nervosismo e insônia. O remédio também não é recomendável para pessoas com histórico de cardiopatia.
O médico faz um alerta às pessoas que usam esses tipos de medicamentos sem o acompanhamento de um profissional. “Os riscos ligados a tais medicamentos são inúmeros, principalmente a criação de dependência. Ansiolíticos não curam nada, apenas aliviam a ansiedade, e seu uso deve ser ocasional e acompanhado de psicoterapia. Muitas pessoas começam a usar tais drogas para insônia e depois terão muita dificuldade para deixar de usá-las, pois ficam dependentes”, diz.
Já os antidepressivos provocam perda da libido e ganho de peso, de acordo com Aiex Neto. Também podem levar a pessoa a um estado de humor exaltado (mania).

Texto Denise Paro / Gazeta do Povo / Foto Marcos Labanca

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