A caça é o delito mais cometido; empresários que faziam safári no Parque Nacional do Iguaçu estão entre os detidos
Ao
menos duas vezes por dia a fauna paranaense é atacada. São crimes de
caça, bichos encontrados em cativeiro, tráfico de animais e outras
ilegalidades descobertas pela Polícia Ambiental. Nos primeiros quatro
meses de 2012 foram 267 registros. Neste ritmo, o número vai ultrapassar
os 623 casos do ano passado. Mas a quantidade de agressões à fauna é
bem maior: muitos criminosos escapam da vigilância ou acabam sendo
localizados por outros órgãos de proteção ambiental. Foi o caso ontem da
Polícia Rodoviária Federal, que apreendeu 200 pássaros silvestres em
um carro na BR-116, na saída de Curitiba.
A maioria das infrações é relativa à caça. O crime ocorre mais frequentemente em áreas de mata nativa de pequenos municípios, como Cruzeiro do Oeste, Guarapuava, Realeza e Icaraíma. De acordo com os policiais, a ação de caçadores não se limita às unidades de conservação. Os flagrantes são recorrentes no Sudoeste, Oeste e Noroeste do estado.
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A situação é preocupante no Parque Nacional do Iguaçu – uma das
principais áreas contínuas de Mata Atlântica do Brasil. Em 2012, sete
prisões de caçadores na reserva de 185 mil hectares, situada no Oeste do
estado, já representam a metade de todo o ano passado – foram 14
detidos em 2011. O aumento na quantidade de prisões pode estar associado
a uma mudança de estratégia de combate. Os policiais passaram a
monitorar cerca de 200 picadas abertas dentro do parque.
A fome não pode explicar a manutenção do hábito – entre os presos estavam até mesmo empresários da região. De acordo com a polícia, os criminosos confessam que caçam por prazer. Alguns usavam acessórios e roupas especiais e pediam para empregados, dias antes, espalharem sal a fim de atrair os animais. “É quase um safári”, diz o tenente da Polícia Ambiental Marcos Cesar Paluch.
Por ser crime afiançável, os detidos logo são liberados. Os juízes estipulam a fiança de acordo com a renda. Em geral, agricultores pagam de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil e empresários e palmiteiros desembolsam R$ 5 mil. Os animais mais abatidos são quati, cotia, paca, anta e veado-pardo.
Caça vira agrado para amigos ou é negociada
Prática comum dos colonizadores da Região Oeste a partir da década de 40, principalmente de descendentes de europeus, a caça sempre foi um problema no Parque Nacional do Iguaçu. No entanto, hoje a questão cultural – associada ao consumo de animais silvestres – não pode ser usada para explicar a ação. “É um vício, um mau hábito por falta de instrução, conhecimento e ou cidadania”, diz o engenheiro florestal Ivan Baptiston. Segundo ele, hoje não se justifica a prática da caça como alternativa de subsistência. Há fortes indícios de que a caça no parque esteja associada a alguma atividade comercial. Alguns caçadores pegam as presas para vender ou fazer “agrados” aos amigos.
Baptiston afirma que hoje o Parque Nacional é uma das poucas áreas do país que conseguem sustentar populações animais em razão da sua extensão. No entanto, pressões externas, como a caça, comprometem o potencial da área. Um tipo de porco do mato, chamado de queixada, é uma das espécies que não se vê no Parque Nacional desde 1997. Os animais circulavam em bandos. Não se pode afirmar que a caça tem sido a única responsável pelo desaparecimento, mas teve um papel preponderante, segundo biólogos.
A maioria das infrações é relativa à caça. O crime ocorre mais frequentemente em áreas de mata nativa de pequenos municípios, como Cruzeiro do Oeste, Guarapuava, Realeza e Icaraíma. De acordo com os policiais, a ação de caçadores não se limita às unidades de conservação. Os flagrantes são recorrentes no Sudoeste, Oeste e Noroeste do estado.
Pesquisa avalia perfil de abates
A ação dos caçadores no Parque Nacional do Iguaçu foi mapeada em um estudo feito pelos pesquisadores Rosimere Fragoso, Luís Eduardo Delgado e Lilian Lopes, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). O levantamento, realizado com base em autos de infração, boletins e laudos da Polícia Ambiental, entre janeiro de 1999 a abril de 2009, revela que a maioria dos caçadores autuados morava em cidades do entorno. No período avaliado foram abatidos 57 animais, a maioria era de veados (26%), cutias (24,5%) e pombas juriti (23%). Nos registros encontram-se capivaras, tatus, uma onça e um jacaré-do-papo-amarelo. (DP)Dê a sua opinião:
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A fome não pode explicar a manutenção do hábito – entre os presos estavam até mesmo empresários da região. De acordo com a polícia, os criminosos confessam que caçam por prazer. Alguns usavam acessórios e roupas especiais e pediam para empregados, dias antes, espalharem sal a fim de atrair os animais. “É quase um safári”, diz o tenente da Polícia Ambiental Marcos Cesar Paluch.
Por ser crime afiançável, os detidos logo são liberados. Os juízes estipulam a fiança de acordo com a renda. Em geral, agricultores pagam de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil e empresários e palmiteiros desembolsam R$ 5 mil. Os animais mais abatidos são quati, cotia, paca, anta e veado-pardo.
Caça vira agrado para amigos ou é negociada
Prática comum dos colonizadores da Região Oeste a partir da década de 40, principalmente de descendentes de europeus, a caça sempre foi um problema no Parque Nacional do Iguaçu. No entanto, hoje a questão cultural – associada ao consumo de animais silvestres – não pode ser usada para explicar a ação. “É um vício, um mau hábito por falta de instrução, conhecimento e ou cidadania”, diz o engenheiro florestal Ivan Baptiston. Segundo ele, hoje não se justifica a prática da caça como alternativa de subsistência. Há fortes indícios de que a caça no parque esteja associada a alguma atividade comercial. Alguns caçadores pegam as presas para vender ou fazer “agrados” aos amigos.
Baptiston afirma que hoje o Parque Nacional é uma das poucas áreas do país que conseguem sustentar populações animais em razão da sua extensão. No entanto, pressões externas, como a caça, comprometem o potencial da área. Um tipo de porco do mato, chamado de queixada, é uma das espécies que não se vê no Parque Nacional desde 1997. Os animais circulavam em bandos. Não se pode afirmar que a caça tem sido a única responsável pelo desaparecimento, mas teve um papel preponderante, segundo biólogos.
Publicado em 09/05/2012 | Denise Paro / Foto Marcos Labanca/ Gazeta do Povo
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