A operação para salvar os 33 mineiros chilenos, patrocinada por grandes empresas, foi um sucesso de logística e de marketing. E também pode transformar os heróis em novos milionários
A final da Copa do Mundo deste ano, entre Espanha e Holanda, foi acompanhada por 700 milhões de pessoas em todo o mundo. A marca foi batida na madrugada da quarta-feira 13 por uma seleção de 32 mineiros chilenos e um boliviano.
Um bilhão de pessoas acompanharam, em frente à televisão, o resgate de Florêncio Ávalos, primeiro a deixar a mina de San José, em Copiapó, no Chile, depois de passar 69 dias soterrado 622 metros abaixo do chão.
À 0h11 do dia 13 de outubro, Ávalos emergiu de dentro da cápsula Fênix II, dando início a um resgate sem precedentes. O procedimento de retirada dos mineiros, que se estenderia ao longo da quarta-feira, mobilizou 250 veículos de comunicação e mil jornalistas, que presenciaram uma operação de guerra, ao custo de US$ 22 milhões.
A estatal chilena Codelco, a maior produtora de cobre do mundo, foi a grande patrocinadora do socorro, ao desembolsar US$ 15 milhões pelo resgate dos mineiros. Segundo o jornal chileno La Tercera, as mineradoras Collahuasi, Escondida e Anglo American, entre outras, contribuíram com outros US$ 5 milhões.
Na operação, o maior gasto foi protagonizado pela perfuradora Schramm T-130, que atingiu 630 metros abaixo do chão, depois de 34 dias de operação, a um custo de US$ 18 mil por dia. Essas despesas serão repassadas, segundo o presidente Sebastian Piñeda, à empresa de mineração San Esteban, dona da mina, que está falida.
A empresa afirmou ter apenas US$ 400 mil em minérios e disse que poderia conseguir outros R$ US$ 260 mil – as famílias dos mineiros prejudicados já entraram na Justiça exigindo outros US$ 27 milhões.
Mas o resgate dos mineiros não foi feito só de despesas. A Oakley patrocinou a operação de resgate e calcula em US$ 41 milhões o retorno de mídia espontânea da exposição dos óculos de sol com que os mineiros deixaram o buraco, para proteger os olhos da luminosidade repentina.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, também aproveitou para capitalizar sua popularidade durante o resgate e compareceu pessoalmente à mina para cumprimentar o único estrangeiro do grupo de mineiros, o boliviano Carlos Mamani, e oferecer ao compatriota emprego e moradia em Cochabamba.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou a Piñeda durante a operação. Passado o momento mais crítico, quem ironicamente fica em pior situação são os 300 mineiros de San José que não permaneceram soterrados na mina.
Enquanto os trabalhadores que se safaram do acidente tiveram de organizar manifestações para receber o salário atrasado de setembro, os funcionários que deixaram o subsolo se organizam para aproveitar as oportunidades que surgiram.
“Se fizermos tudo certo, não precisaremos trabalhar para o resto das nossas vidas”, escreveu Yonni Barrios, 50 anos, em uma das cartas enviadas às famílias e à imprensa enquanto ainda estavam isolados.
Os mineiros que sobreviveram 17 dias sem nenhum contato com a superfície receberam convites para passar uma semana na Grécia (com uma acompanhante) e assistir a partidas do Real Madrid e do Manchester United.
Eles também ganharam cheques de US$ 10 mil do empresário da mineração chileno Leonardo Farkas e iPods enviados por Steve Jobs. Mas o grande trunfo dos mineiros é a história do drama por que eles passaram nos últimos dois meses.
Há redes de televisão oferecendo US$ 250 mil a cada um pela exclusividade de suas histórias e empresas de equipamento de segurança, cerveja e até de vitaminas para melhorar o desempenho sexual manifestaram interesse em contratá-los como garotos-propaganda.
Precavidos, “Os 33”, como ficaram conhecidos, contrataram serviços especializados para administrar a fama repentina e firmaram um pacto legal para dividir igualmente os rendimentos da história que protagonizaram. Mesmo fora do buraco, o grupo
não deve se separar tão cedo.
Por Rodolfo Borges