Marcos Labanca/ Gazeta do Povo
Polícia interditou fazenda de brasileiro sob o pretexto de respaldo judicial
Deputados
paraguaios estiveram ontem nas regiões de conflito de terra no estado
de Alto Paraná, na fronteira com o Brasil e a Argentina, para avaliar a
situação e cobrar o respeito às leis. Em Ñacunday, a 85 quilômetros a
Oeste de Foz do Iguaçu, cerca de oito mil “carperos” (nome dado aos
sem-terra paraguaios) estão acampados em propriedades rurais de
brasileiros desde setembro. Já em Mbaracayú, a 80 quilômetros a
Noroeste, desde o final de janeiro homens da Policia Nacional ocupam uma
das 30 fazendas – também de brasileiros – e alegam pertencerem a uma
empresa paraguaia.
O resultado é que as lavouras de soja e de milho estão paradas e, por isso, tudo o que foi plantado corre o risco de ser perdido. Segundo o engenheiro agrônomo Rubén Sanabria, representante da Coordenadora Agrícola do Paraguai (CAP), em Alto Paraná, os policiais deslocados da capital Assunção que interditaram a fazenda, de acordo com eles, estariam amparados por uma ordem judicial que proíbe os produtores brasileiros de trabalharem e circularem pela propriedade.
O deputado Justo Zacarías Irún, um dos parlamentares que se reuniu ontem em Santa Rosa del Monday com cerca de 300 agricultores das duas regiões em conflito, se mostrou preocupado com o aumento da tensão e o desrespeito à legalidade. “As leis precisam ser cumpridas. Os produtores de Ñacunday não são contra as demarcações exigidas pelo Instituto de Terras, desde que feitas dentro das leis vigentes e sem abuso.” Na semana passada, o governo anunciou a instalação de ‘escolas carpas’ e de atendimento médico aos acampados.
Os agricultores acusam o governo do presidente Fernando Lugo de apoiar e incentivar as invasões às propriedades de brasileiros, responsáveis por quase 90% de toda a produção paraguaia de soja e de grãos. Eles denunciam que as ameaças são constantes, que desde o ano passado estão vivendo momentos de terror e que o desrespeito à Constituição é cada vez maior, sem que se visualize qualquer intenção de se solucionar o problema de forma justa.
Apesar da ordem de prisão contra os sem-terra que ocupam a Fazenda Agro Toro, de propriedade do brasileiro Tranquilo Favero, maior produtor de soja do Paraguai, o líder dos carperos, Victoriano López, reafirmou ontem que eles não desocuparão o local. “Não estou preocupado porque esta ordem não será cumprida. Estamos em uma área pública”, reforçou ao alegar que as barracas estão sob as linhas de transmissão de energia da estatal Ande. Além disso, defende que a área conta com mais de 169 mil hectares pertencentes ao Estado.
Famílias ameaçadas não sabem para onde ir
“Ilhado” na própria propriedade de 20 hectares em Mbaracayú, o brasileiro Janilson dos Santos, 46 anos e há 40 anos no Paraguai, diz temer o pior e não saber o que fazer caso tenha que deixar as terras. “Há quase três semanas não como e não durmo direito. Durante o dia vejo os policiais ostentando as armas e passando pela estrada que fica a dez metros da minha casa. À noite, ouço os tiros”, conta ele, lembrando que para sair de casa usa um caminho alternativo pela propriedade vizinha.
Pelo portão montado por policiais na entrada da fazenda, Santos garante que só pode passar raras vezes e somente durante o dia. “Se não quiser levar tiro, o melhor mesmo é ficar em casa. E, se formos despejados, a mudança está pronta. O problema é que não sei o que vou fazer depois. Vim de Assis Chateaubriand para o Paraguai aos 6 anos, com os meus pais. O que tenho está aqui em cima destas terras. Isso é um desrespeito à propriedade privada”, lamenta.
Os conflitos em Mbaracayú, conta o agricultor Mário Rudi Toillier, se estendem por cerca de dez anos, quando a empresa Fécula Paraná entrou na Justiça exigindo a reintegração de posse sem sucesso. “Mais tarde foi a vez da Industrial Furtuna, que também não conseguiu nada, agora é Benita S.A.” Os títulos apresentados, segundo ele, não estão inscritos no Registro Nacional. “Nem hipoteca no banco conseguiriam, ao contrário de nós. Não vamos deixar que tomem nossas terras.”
Fabiula Wurmeister, enviada especial / Foto: Marcos Labanca
O resultado é que as lavouras de soja e de milho estão paradas e, por isso, tudo o que foi plantado corre o risco de ser perdido. Segundo o engenheiro agrônomo Rubén Sanabria, representante da Coordenadora Agrícola do Paraguai (CAP), em Alto Paraná, os policiais deslocados da capital Assunção que interditaram a fazenda, de acordo com eles, estariam amparados por uma ordem judicial que proíbe os produtores brasileiros de trabalharem e circularem pela propriedade.
O deputado Justo Zacarías Irún, um dos parlamentares que se reuniu ontem em Santa Rosa del Monday com cerca de 300 agricultores das duas regiões em conflito, se mostrou preocupado com o aumento da tensão e o desrespeito à legalidade. “As leis precisam ser cumpridas. Os produtores de Ñacunday não são contra as demarcações exigidas pelo Instituto de Terras, desde que feitas dentro das leis vigentes e sem abuso.” Na semana passada, o governo anunciou a instalação de ‘escolas carpas’ e de atendimento médico aos acampados.
Os agricultores acusam o governo do presidente Fernando Lugo de apoiar e incentivar as invasões às propriedades de brasileiros, responsáveis por quase 90% de toda a produção paraguaia de soja e de grãos. Eles denunciam que as ameaças são constantes, que desde o ano passado estão vivendo momentos de terror e que o desrespeito à Constituição é cada vez maior, sem que se visualize qualquer intenção de se solucionar o problema de forma justa.
Apesar da ordem de prisão contra os sem-terra que ocupam a Fazenda Agro Toro, de propriedade do brasileiro Tranquilo Favero, maior produtor de soja do Paraguai, o líder dos carperos, Victoriano López, reafirmou ontem que eles não desocuparão o local. “Não estou preocupado porque esta ordem não será cumprida. Estamos em uma área pública”, reforçou ao alegar que as barracas estão sob as linhas de transmissão de energia da estatal Ande. Além disso, defende que a área conta com mais de 169 mil hectares pertencentes ao Estado.
Famílias ameaçadas não sabem para onde ir
“Ilhado” na própria propriedade de 20 hectares em Mbaracayú, o brasileiro Janilson dos Santos, 46 anos e há 40 anos no Paraguai, diz temer o pior e não saber o que fazer caso tenha que deixar as terras. “Há quase três semanas não como e não durmo direito. Durante o dia vejo os policiais ostentando as armas e passando pela estrada que fica a dez metros da minha casa. À noite, ouço os tiros”, conta ele, lembrando que para sair de casa usa um caminho alternativo pela propriedade vizinha.
Pelo portão montado por policiais na entrada da fazenda, Santos garante que só pode passar raras vezes e somente durante o dia. “Se não quiser levar tiro, o melhor mesmo é ficar em casa. E, se formos despejados, a mudança está pronta. O problema é que não sei o que vou fazer depois. Vim de Assis Chateaubriand para o Paraguai aos 6 anos, com os meus pais. O que tenho está aqui em cima destas terras. Isso é um desrespeito à propriedade privada”, lamenta.
Os conflitos em Mbaracayú, conta o agricultor Mário Rudi Toillier, se estendem por cerca de dez anos, quando a empresa Fécula Paraná entrou na Justiça exigindo a reintegração de posse sem sucesso. “Mais tarde foi a vez da Industrial Furtuna, que também não conseguiu nada, agora é Benita S.A.” Os títulos apresentados, segundo ele, não estão inscritos no Registro Nacional. “Nem hipoteca no banco conseguiriam, ao contrário de nós. Não vamos deixar que tomem nossas terras.”
Fabiula Wurmeister, enviada especial / Foto: Marcos Labanca
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