sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A era da miopia digital


Marcos Labanca/ Gazeta do Povo
Marcos Labanca/ Gazeta do Povo / “Pergunto aos pais se quando seus filhos dizem que querem dirigir, e ainda não têm idade para isso, se a atitude deles é a de entregar as chaves do carro. A resposta, claro, é sempre que não. Com a internet, o comportamento deveria ser exatamente o mesmo”.  
“Pergunto aos pais se quando seus filhos dizem que querem dirigir, e ainda não têm idade para isso, se a atitude deles é a de entregar as chaves do carro. A resposta, claro, é sempre que não. Com a internet, o comportamento deveria ser exatamente o mesmo”


Gracielle Torres, especialista em Segurança da Informação
Em todo o país, estima-se que cerca de 13 milhões de crianças estejam expostas aos perigos da internet. Entre os riscos mais comuns estão o de serem vítimas de pedofilia, pornografia infantil ou ciberbullying – o bullying praticado na internet. O constante acompanhamento dos pais e responsáveis sobre o conteúdo que os filhos acessam ajuda a reduzir possíveis ataques. Mas a conversa franca aliada ao domínio das novas tecnologias, alerta a consultora em Segurança da Informação e criadora do projeto “Proteja seu Filho na Internet”, Gracielle Torres, são fundamentais no combate a esses tipos de crimes cibernéticos.
Quais os principais perigos que as crianças e adolescentes correm na internet?
Pedofilia, pornografia infantil e ciberbullying. Com a explosão das redes sociais, uma das portas de entrada para os ataques são os perfis abertos, por meio dos quais qualquer pessoa pode ter acesso a todo tipo de informação sobre o que esses usuários fazem, principalmente os pedófilos. Essas crianças e adolescentes acessam essas páginas e montam os seus perfis de maneira autodidata, sem tomar cuidados importantes.
Por que as empresas que controlam as redes sociais não disponibilizam mecanismos de privacidade mais fáceis?
Os mecanismos de segurança e privacidade estão lá e são até bastante eficientes. Mas a ideia é ter cada vez mais usuários conectados com outros usuários, em uma rede quase sem limites. Se um usuário tiver que perder muito tempo criando essas barreiras, desiste de criar o perfil. Ao restringir o acesso às informações e limitar o número de amigos, a rede não se expande. E isso é o que as empresas não querem.
O papel dos pais de controlar e saber o que os filhos acessam se torna fundamental para protegê-los...
Exatamente. Nas palestras e orientações que faço sempre pergunto aos pais se quando seus filhos dizem que querem dirigir e ainda não têm idade para isso a atitude deles é simplesmente a de entregar as chaves do carro. A resposta, claro, é sempre que não. Com a internet, o comportamento deveria ser exatamente o mesmo.
Os pais estão preparados para monitorar e proteger os filhos?
Não. Os pais sofrem de uma grave miopia em relação à internet. O resultado de uma pesquisa recente feita com 1.580 pais e crianças mostra que 53% dos responsáveis nem sequer usam a internet. Muitos dizem que sabem o que os filhos fazem na internet, mas não é verdade. Alguns chegam a dizer que não veem qualquer possibilidade de os filhos sofrerem algum tipo de ataque na internet. Temos de vencer essa inércia para ter condições reais de proteger as crianças.
Além do esforço dos pais, há outras formas de se blindar contra esses riscos?
O debate tem de passar pela escola e pelo incentivo do governo. É preciso levar pessoas especializadas às escolas para instruir alunos e professores. Para muitas crianças, os pais controlam porque querem proibir.
As crianças e adolescentes podem ser tanto vítimas como autores destas perseguições e agressões. Como lidar com isso?
O importante é informar para elas que não existe diferença entre o mundo real e o mundo virtual. As regras de conduta devem ser as mesmas. É errada a ideia de que no virtual pode tudo. Você mandaria seu filho ou sua filha de sunga ou de biquíni comprar pão na padaria? Certamente não. Mesmo que mandasse, eles estariam menos expostos do que quando um pai coloca uma foto deles na internet, em trajes de banho. A dimensão que isso toma na rede é muito maior. Quanto a crimes que podem ser cometidos pelos filhos, também é preciso ficar atento. O ciberbullying - a agressão repetitiva, com o envolvimento de várias pessoas - é o mais comum. O que de início parece uma brincadeira, muitas vezes é mais sério do que parece.
Quando a criança é vítima de um desses crimes, como os pais devem agir e quem procurar?
O fundamental é se mostrar presente e oferecer todo tipo de apoio, independente do nível de estrago provocado. Quanto mais sério, mais necessária será a presença dos pais. As consequências psicológicas e os traumas são muito grandes. Outra atitude importante é se municiar o máximo possível de provas que ajudem a levar ao criminoso. Imprimir tudo, conversas, fotos. Depois, procurar o Ministério Público para fazer a denúncia, e o acompanhamento de um advogado e de um psicólogo. É errado pensar que estes criminosos ficarão impunes. Hoje a própria tecnologia permite que qualquer pessoa seja identificada na internet pelo número do IP (Protocolo de Identidade) dos computadores. Há um medo muito grande de exposição por parte das vítimas e dos pais. Mas é preciso denunciar. Só assim os culpados serão punidos.

 Publicado em 16/11/2012 | Fabiula Wurmeister, da sucursal de Foz do Iguaçu
 Fotos Marcos Labanca/Gazeta do Povo.

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