domingo, 11 de novembro de 2012

“País perderá ainda mais talentos se não valorizar as mulheres”

Eliane Domingos de Sousa, desenvolvedora e uma das fundadoras do grupo Nerds de Batom



A tecnologia da informação (TI) é uma das áreas ainda dominada pelos homens no Brasil. Em outros países, como a Alemanha, o Japão e os Estados Unidos, a realidade é bem diferente – cada vez mais mulheres têm se interessado pelas crescentes e vantajosas oportunidades de emprego nesta área. Mas, no Brasil, apesar dos avanços, menos de 20% dos profissionais de TI são mulheres. “Somos tão capazes quanto os homens, mas poucas pessoas admitem e se beneficiam disso”, aponta a desenvolvedora Eliane Domingos de Sousa, uma das fundadoras das Nerds de Batom. Criado em abril durante um fórum em Duque de Caxias (RJ), o grupo serve de apoio às discussões sobre as dificuldades e barreiras que encontram na área e como estimular a participação feminina na TI. Eliane conversou com a Gazeta do Povo durante a 9.ª Conferência Latino-Americana de Software Livre (Latinoware), em Foz do Iguaçu.
Hoje os cursos tecnológicos são os mais procurados por quem está ingressando no ensino superior. A preferência das mulheres por carreiras clássicas, como Direito, Medicina e Pedagogia, é uma questão cultural ou de falta de incentivo?
As duas coisas. A tecnologia está presente em todas as áreas, desde a Medicina até a Pedagogia. Mas ainda há um pensamento machista muito forte quando se trata da mulher na tecnologia. De cada dez mulheres que começam um curso nesta área, apenas duas se formam. É muito comum os homens qualificarem as mulheres como incapazes de, por exemplo, programar ou desenvolver um sistema.
Falta também iniciativa das próprias mulheres?
Sim, principalmente se pararmos para analisar como era no passado. Antes era raro uma mulher ter um diploma de curso superior, hoje elas já são maioria nas universidades. Em quase tudo, somos tão capazes quanto os homens, basta querermos.
Você sentiu preconceito enquanto estava estudando e depois como profissional?
Sim. Depois de formada, fui fazer um curso de aperfeiçoamento e na sala eu era a única mulher. Confesso que não via muita boa vontade dos colegas em me ajudar. O que era bem diferente entre eles. A postura do próprio instrutor era a mesma. Falando sobre isso e vendo que o problema era comum com outras colegas e percebendo a pouca participação nos encontros da área, decidimos criar, em abril, as Nerds de Batom.
O preconceito aparece nos anúncios de emprego?
É muito comum ver “Procura-se desenvolvedor, do sexo masculino, com experiência...” Essas coisas também acabam desestimulando e restringindo o mercado de trabalho. Isso sem falar na diferença salarial.
Em países em que este setor é valorizado as profissionais de TI também sofrem este preconceito?
Não. Nos Estados Unidos e na Europa, para citarmos alguns, isso é muito diferente: as mulheres têm as portas abertas para a tecnologia. O Brasil não acordou para isso, corre um sério risco de novamente ficar à margem desse desenvolvimento, e poderá perder ainda mais talentos se não valorizar as mulheres. Pior, ter de pagar muito caro pela tecnologia que poderia ele mesmo produzir.
Como romper essas barreiras e em que áreas as mulheres podem se destacar?
O primeiro passo é não se deixar abater por comentários preconceituosos. Na área de tecnologia da informação, são vários os ramos: você não precisa ser apenas um desenvolvedor ou um programador, há muita oferta nas áreas de web designer, redes sociais, consultoria, criação de sites. Nós, mulheres somos muito detalhistas, e isso é um ponto positivo quando se fala em informática e na aparência das coisas. Em segundo lugar, os governos também precisam atentar para isso e estudar formas de atrair as mulheres para o universo da tecnologia.

Fabiula Wurmeister, da sucursal/ Foto Marcos Labanca/Gazeta doPovo

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