quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Paraná mantém fronteira aberta para a aftosa em Foz do Iguaçu

Marcos Labanca/Gazeta do Povo
Marcos Labanca/Gazeta do Povo / Arcoduto não foi abastecido com líquido para desinfecção de caminhões que atravessam a Ponte da Amizade 
Arcoduto não foi abastecido com líquido para desinfecção de caminhões que atravessam a Ponte da Amizade.
 
 
Dois dias depois de o Paraguai ter confirmado novo caso de aftosa em seu rebanho bovino, a desinfecção de veículos ori­undos do país vizinho ainda não tinha sido iniciada até ontem à tarde em Foz do Iguaçu. A medida chegou a ser anunciada como prioritária pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
Os agentes sanitários federais que atuam em Foz disseram aguardar orientação da Seab para iniciar os trabalhos. A desinfecção foi suspensa em 19 de novembro do ano passado, dois meses após a confirmação de um foco que exigiu o sacrifício de 820 bovinos paraguaios. Para o Mapa, a situação estava sob controle.
Relação de risco
O Brasil demonstra confiança na defesa sanitária paraguaia desde o foco de aftosa confirmado pelo país vizinho há três meses. No Paraná, o setor produtivo ainda não superou a crise sanitária de 2005.
Foco duplo – O Paraguai teve de sacrificar 820 animais em setembro de 2011 em San Pedro, mesmo distrito onde 150 bovinos estariam novamente com o vírus da aftosa. A suspeita é que o primeiro foco não foi controlado.
Importação – Em dezembro, o Brasil autorizou a retomada da importação de carne bovina maturada e desossada. Já a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) negou pedido para que regiões distantes do primeiro foco da doença fossem consideradas áreas livres de aftosa.
Defesa – A desinfecção de veículos paraguaios foi suspensa em Foz do Iguaçu em novembro, dois meses após o primeiro foco de aftosa paraguaio. Os dois países estavam realizando campanha de vacinação. No Paraná, 97% do rebanho teriam sido imunizados. A próxima campanha será em maio.
Barreiras – Além da barreira oferecida pela vacinação, o Paraná confia na fiscalização nas divisas e fronteiras, barrando animais vivos e alimentos sem inspeção. O governo estadual pede colaboração da população para que não descaminhe alimentosde origem animal e pressiona o Ministério da Agricultura a suspender a importação de carne bovina de todo o Paraguai, não só do distrito de San Pedro, onde ocorreram dois focos de aftosa em quatro meses.
Risco – A ocorrência de aftosa pode fazer com que todos os tipos de carne de um país enfrentem barreiras sanitárias entre os importadores. O Paraná não conseguiu reconquistar clientes da carne bovina perdidos em 2005, última vez em que a entrada do vírus foi confirmada. Na carne bovina, as exportações jamais voltaram ao normal: os embarques caíram a zero em outubro – também pela falta de padrão e qualidade.
Os equipamentos de pulverização e desinfecção continuam montados na Ponte da Amizade, mas estão parados, entre eles um arcolúvio (instrumento com sensor usado para desinfetar caminhões), um rodolúvio (tanque com água e desinfetante para lavagem dos pneus dos veículos) e bombas manuais para esterilização dos carros.
A iminência da entrada do vírus da febre aftosa no Brasil preocupa os pecuaristas da Região Oeste do Paraná. O presidente do Sindicato Rural de São Miguel do Iguaçu, José Carlos Colombari, disse que a doença afetaria toda uma cadeia produtiva de bovinos e suínos. O Paraná quer se tornar área livre da aftosa sem vacinação em 2013.
“Qualquer anormalidade é prejudicial para a região, que tem uma suinocultura muito forte. Desde 2005, quando houve suspeita de aftosa, o Paraná não conseguiu retornar as suas exportações de carnes para alguns países”, afirmou.
Em novembro do ano passado, o Paraná vacinou 97% de seu rebanho bovino de 9,3 milhões de cabeças contra a aftosa, segundo estimativa da Seab. Os dois casos de aftosa confirmados pelo Paraguai ocorreram a cerca de 230 quilômetros de Foz, na região do distrito de San Pedro. Somente ontem o Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal do Paraguai notificou os pecuaristas do país que as exportações de carne com origem nesse distrito foram suspensas pelo Brasil.
Defesa
Seab pede colaboração
Da Redação
A desinfecção dos veículos que entram no Brasil por Foz do Iguaçu deve começar nesta quinta-feira, conforme o secretário da Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara. Depois de reunião com representantes do Ministério da Agricultura, do Exército e do setor produtivo, realizada em Curitiba, ele disse que a vigilância vai funcionar 24 horas por dia num sistema de trabalho integrado.
O secretário afirmou que a população pode colaborar para proteger a saúde do rebanho bovino. Sua orientação é que ninguém traga alimentos de origem animal do Paraguai sem inspeção oficial. Na fronteira, a desinfecção é seletiva, para “caminhões, caminhonetes ou veículos com sinais de presença em propriedades rurais”, disse Ortigara.
O Exército deverá manter 16 militares em Foz – oito para o dia e oito para a noite. A Polícia Militar e a Polícia Federal também devem ser acionadas, como forma de fortalecer a vigilância na fronteira com a Argentina.




Robson Mattjie, especial para a Gazeta do Povo
Foto: Marcos Labanca/Gazeta do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário