quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Parque das Aves, muito mais que uma vitrine de animais

Zoológico em Foz do Iguaçu reúne educação ambiental, pesquisa e preservação de espécies em extinção com direito a reconhecimento internacional
Marcos Labanca / Gazeta do Povo





 
 / Guarás ganharam ninhos para estimular a reprodução
Marcos Labanca / Gazeta do Povo
 

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De setembro a março, época de reprodução
Andar pelas trilhas do Parque das Aves entre setembro e março, período de reprodução de várias espécies de aves, é garantia de se deparar com um ou mais viveiros com ninhos ou filhotes recém-nascidos e superprotegidos pelos pais. De um ano para o outro, o número de espécies que consegue aumentar a família também muda. Desde o ano passado, as atenções estão voltadas principalmente para o casal de harpias, a águia mais poderosa das Américas.
Uma câmera monitora o ninho 24 horas por dia. Já foram pelo menos duas tentativas frustradas. Se tudo der certo, nos próximos meses o parque terá um feito inédito: reproduzir a espécie sem a necessidade de isolamento das aves. “A reprodução em cativeiro é muito difícil. Por isso, muitas vezes as aves são tiradas dos viveiros. Mas, queremos que tudo ocorra naturalmente. Um filhote criado pelos pais estará muito mais apto para a reintrodução na natureza que um criado na mão”, explica a bióloga Yara Matos.
Em extinção
Papagaios-da-cara-roxa e do peito-roxo – espécies ameaçadas de extinção –, emas, guarás, flamingos, ararajubas e urubus-rei completam a lista de novos moradores. “Para cada indivíduo, um cuidado diferente, uma descoberta e experiências que tornam o trabalho ainda mais gratificante”, avalia. “Cerca de 15% das espécies ameaçadas, como a ararinha azul e o mutum de Alagoas, existem no mundo apenas em zoológicos e dependem exclusivamente do trabalho feito em cativeiro para não serem extintas.”
Paralelamente às pesquisas próprias, o parque vem desenvolvendo em parceria com a Fundação O Boticário um projeto de recuperação da população de jacutingas na reserva Salto Morato, no Litoral do estado. Outra iniciativa ainda em estudo é o projeto Araras do Iguaçu, que deve ser feito em conjunto com o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e prevê a reintrodução de araras vermelhas e canindés, antes presentes no Paraná e hoje localmente extintas.

Ter o trabalho reconhecido por organizações sérias que promovem o bem-estar animal e a preservação de espécies ameaçadas é um dos maiores reconhecimentos que um zoológico pode receber. Uma iniciativa privada paranaense, o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, pode se orgulhar de, juntamente com o Zoológico de São Paulo, ser um representante do Brasil na World Association of Zoos and Aqua­­riums (Waza). Entre os critérios para a aceitação, ocorrida neste mês, estão a excelência em manejo, a existência de boas instalações e a recomendação de dois membros.
De acordo com a bióloga e diretora técnica da instituição, Yara Matos, o parque já recebe visitas de representantes de várias instituições e conta com a assessoria de especialistas de várias partes do mundo, como a Itália e o Chile. Para ela, o local vai ganhar muito com esse reconhecimento. “Isso fará com que a troca de experiências aumente significativamente”, diz Yara, assinalando que o parque já faz parte da Associación Lati­noame­ri­­cana de Parques Zoológicos y Acuarios (Alpza) e da Sociedade de Zooló­gicos do Brasil (SZB).
Amor por papagaios
Criado em 1994 pelo casal de biólogos estrangeiros Dennis e Anna Crou­kamp a partir da paixão pelos papagaios, o Parque das Aves – vizinho ao Parque Nacional do Iguaçu – abrigou inicialmente 81 aves de 34 espécies. Hoje, reúne 860 animais de 138 espécies e recebe cerca de 300 mil visitantes por ano. Somente em 2010, contabilizou 140 nascimentos, sendo 10% de espécies ameaçadas de extinção. Anunciando que seria uma referência em pesquisa e reprodução, logo nos primeiros anos o parque foi agraciado com novos moradores, como araras e periquitos.
Para dar conta do trabalho, 100 funcionários se revezam diariamente nos cuidados diretos com os animais e no trabalho de recepção dos turistas. Em­­presa totalmente privada, o Par­­que das Aves recebe todo ano mais de 30 mil crianças e adolescentes, que são envolvidos em projetos de educação ambiental, atua em parceria em projetos do governo e custeia a participação de pesquisadores em encontros e seminários em todo o mundo. Outra atividade importante é a de receber animais apreendidos e recuperá-los.
“Quem nos visita nem sempre tem ideia do quanto se faz por estes animais e pela natureza em geral. A atuação não está restrita aos 16 hectares do parque. Um zoológico não deve ser apenas uma vitrine de bichos”, aponta Yara, lembrando que esse tipo de instituição é responsável pelo terceiro lugar em financiamentos de projetos de conservação em todo o mundo. Somente em 2008, segundo pesquisas na área, os zoológicos de todo mundo tiveram mais de 700 milhões de visitantes e US$ 350 milhões investidos em pesquisas e estudos.
Maior da América Latina e único no país construído dentro da mata e com vários recintos de imersão, onde os visitantes podem passear em meio a tucanos, guarás, garças e araras, o parque está sendo remodelado. “Vamos criar mais espaços para passeios e viveiros separados um dos outros”, adianta a diretora. Além das pesquisas com os animais – o parque abriga também borboletas, cobras e jacarés –, a manutenção da flora também é constante. Desde 1994, mais de seis mil árvores foram plantadas no local.
Serviço:
Avenida das Cataratas, Km 17,1. Diariamente das 8h30 às 17h30. Ingressos: R$ 20. Informações e reservas: (45) 3529-8282 ou www.parquedasaves.com.br .

 Publicado no Jornal Gazeta do Povo, FOZ DO IGUAÇU - Fabiula Wurmeister, da sucursal, Fotos Marcos Labanca

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